Quem Sou Eu


Vera Maria Medeiros

Minha Biografia


E...tudo começou por volta dos quatro anos de idade quando por algum motivo fui com uma freira da escola até uma saleta ao pé da escada que levava ao piso superior da escola. Aquele madeirame antigo e lustroso, não sei como mantido assim. No espaço vazio ao lado dessa escada havia um piano vertical, verniz escuro que me chamou a atenção imediatamente e não sei de que maneira minha mãe me colocou a aprender os rudimentos pianísticos com essa freira. Não havia piano em casa e nem estímulos. Ninguém sabia nada sobre o assunto, por isso, hoje, considero como o meu processo iniciático, e discipulado, porque sozinha entrei nesse universo fantástico de sons.         Aos oito anos mudei-me com a família para a cidade de Rio Grande-RS e lá, por insistência colocaram-me a estudar com uma senhora chamada dona Hélia, que me deu aula naquele ano e preparou-me para os exames do Conservatório Carlos Gomes. Já tinha completado nove anos. Então começa o duro treinamento técnico-artístico-espiritual do futuro pianista. Formei-me pelo Conservatório Carlos Gomes da cidade do Rio Grande, onde estudei com a pianista Ana Maria Terra Pinto (Seifriz). Por volta dos 19 anos ganhei o título de bacharel em piano em exames realizados na cidade de Porto Alegre, com banca da UFRGS. Por exigência familiar cursei, posteriormente, Direito na Universidade Federal de Pelotas e  Letras na Universidade Católica de Pelotas. Apesar disso continuei tocando e me aperfeiçoando, enquanto experimentava trabalhos nas outras especialidades. Homero Magalhães, Jacques Klein, Aleida Scweitzer, Vera Astrachan, Luiz Carlos de Moura Castro foram alguns de meus professores e orientadores. Dei recitais pelo Brasil e Europa, principalmente França e Espanha. Participei dos festivais de verão europeus: Espanha, Portugal, França, Bélgica, Suíça, Itália, como também dos Festivais Internacionais de Música Espanhola em Santiago de Compostela, a partir de 1986 até 1996. A atividade didática começou em 1993, na cidade de Florianópolis, no então Conservatório Musical de Florianópolis, hoje OPUS. Realizei inúmeros workshops, palestras e recitais por todo o estado de Santa Catarina.
   Nesse período de magistério no conservatório descobri a qualidade terapêutica do estudo do piano e , também, a sua qualidade diagnóstica, ensinando pessoas de diversas idades: crianças, adolescentes e de idade madura .O trabalho que me marcou profundamente nesse período foi o realizado com uma senhora da sociedade local, já com mais de 75 anos, com problema cardíaco grave e com 5 pontes de safena e que fora encaminhada por sua psicóloga. Essa psicóloga perguntara à sua cliente qual o desejo mais profundo de sua alma e que não fora realizado. Ela respondeu que havia sido a interrupção dos seus estudos de piano, por motivo de casamento e sua mudança do Rio de Janeiro para Florianópolis que na época era uma pequena cidade. Trouxe com ela seu piano e passou a tocar pequenas coisas de vez em quando porque foi envolvida pela participação na vida social da cidade.
  Já então como minha aluna, perguntei-lhe o que mais ela desejava tocar e que ela então lendo seu coração me trouxesse algumas peças de seu agrado para que pudéssemos começar a trabalhar. Nesse dia, ela me fez sua biografia e me deu um panorama das profundezas de sua alma, cuja voz tinha ficado calada todo esse tempo.
  Na semana seguinte, para minha surpresa, ela me apresentou o estudo de Chopin, denominado Tristesse, o Sonho de Amor de Liszt e a Dança Ritual do Fogo de Manuel de Falla, muito bem lidos, em velocidade lenta, sem equívocos. Ela me contou que estudara muito com a pianista Magdalena Tagliaferro, no Rio de Janeiro. Começamos, então, o trabalho técnico-interpretativo dessas obras e fui ensinando-lhe como ir memorizando e se libertando da partitura. Ela me comentou que já estava muito idosa para memorizar e eu lhe respondi que era apenas uma questão de concentração e treino e o querer colocado em ação. (SANKALPA) Na semana seguinte ela chegou muito cedo ao conservatório, uma hora antes do horário, muito agitada. Chamada pela secretária desci ao andar térreo e convidei-a a subir à minha sala ( interrompi a aula que estava dando). Ela imediatamente foi ao piano e começou a tocar de memória o Sonho de amor e depois a Dança Ritual do Fogo. Para mim foi uma imensa alegria ver e ouvir o despertar de uma pessoa. Dois meses do início do nosso trabalho ela convidou-me para ir à sua casa para experimentar seu piano que estava consertado. Fui, uma linda casa, muito bem decorada. Ela pediu-me para tocar e sem que eu percebesse gravou minha audição. Depois levou essa gravação para sua psicóloga e abandou os remédios antidepressivos que tomava. Tornamo-nos grandes amigas e antes de morrer, aos 80 anos, ela me telefona à noite para se despedir, agradecer e dizer-me que estava indo. Eu me preparei para ir até ao hospital no outro dia, passei a noite em reflexão e ela partiu nessa mesma noite. Foi uma emoção muito forte, inesquecível. O meu caminho como musicoterapeuta estava aberto.
  Em 1999. Fundei a escola Leonardo da Vinci, na Praia do Santinho, onde as crianças pré-escolares aprendiam através das artes. Foi um belíssimo projeto que se concluiu por questões de recursos materiais e humanos que eram muito difíceis de conseguir. Em 2003 conclui o pós-graduação com habilitação em Musicoterapia, pela UNISUL, com um trabalho inédito sobra a intervenção primária da musicoterapia na depressão de crianças na faixa etária de 6 a sete anos, que ganhou grau 10 e louvor pelo ineditismo do tema na época. Trabalhei centenas de crianças, com os mais diversos transtornos, tendo sido marcante o tema da desterritorialização, pois a localidade onde estava o espaço de trabalho, era marcada pela diversidade e pelo afluxo de pais jovens que vinham de vários lugares do país e do exterior e cujas crianças encontravam aí uma identidade comum.
   Nesse período também já atendia pessoas individualmente, principalmente pais, perdidos e pressionados pela necessidade urgente de sobreviver e se instalar nessa nova terra e que se refletia nas suas relações de casamento. Depois formei grupos de apoio, onde vi acontecer o grande efeito da música, movimento, sons e ritmos na estruturação do ser humano.
  Trabalhei, também, com as pessoas portadoras de diabetes no Posto de Saúde da Praia dos Ingleses, com resultados altamente positivos. Escolas também me chamaram para implantar esse trabalho em grupo com as crianças e várias usufruíram dessa terapêutica.
Em 2008 trabalhei no semiárido baiano, com poucos recursos de apoio (instrumentação) e tive que usar meu corpo e minha voz como instrumentos musicais. Foi um grande aprendizado e para eles uma grande experiência conforme documentação que tenho comigo.
Voltando à Santa Catarina, dezembro de 2008, continuei fazendo atendimentos individuais utilizando novas técnicas que havia desenvolvido no meu período baiano, afinando a orquestra interna de cada um.
  Hoje utilizo a Música, o som, o movimento, ritmos e voz buscando a ressonância de cada ser, do corpo físico e dos corpos sutis.
  Há oito anos realizo o Círculo do Sagrado feminino, na primavera, no espaço chamado Albergue da Luz em Santa Catarina.



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